14/05/2018

TBM-01 Kosuke Mine Quintet - "Mine" (1970)


Título: "Mine"
Data: 1970
Artista / Grupo: Kosuke Mine Quintet
Nº do Catálogo: TBM-1, TBM-2501 (Reedição 1977), PAP-20031 (Reedição 1982)

Line-up:
Kosuke Mine - Saxofone Alto e Soprano
Hideo Ichikawa - Piano Eléctrico (Fender)
Takashi Mizuhashi - Contrabaixo
Hiroshi Murakami - Bateria
Takashi Imai - Trombone

Faixas:
01 - Morning Tide (13:15)
02 - Isotope (12:22)
03 - Dream Eyes (14:02)
04 - Work I (09:11)


A ilustre companhia dos ratinhos não podia ter tido melhor começo. Kosuke Mine, o novato saxofonista que se tinha estreado no mesmo ano deste "Mine" com First (editado pela Phillips), soprando notas com uma segurança vigorosa, brincando com as escalas, saltitando de nota em nota, formando cascatas sónicas até o seu instrumento atingir o cume da expressividade. A bateria de Hiroshi Murakami e o Fender de Hideo Ichikawa lá vão seguindo o trilho incendiário de Mine que, em Morning Tide, começa logo a rasgar a escala, como que provando que de aprendiz nada tem. O sax de Mine dá lugar ao trombone de Takashi Imai que, não surpreendendo tanto no seu primeiro solo, mantêm ainda assim o barco nas águas turvas da bateria incessante e dos dedos desdobrando-se nas teclas do piano. Esta é uma faixa de harmonias em parceria, uma excelente porta de entrada para todo o álbum. Depois do solo endiabrado de Ichikawa (já não se toca Fender assim!) e da competência das baquetas de Murakami, eis que a cacofonia de Mine e de Imai catapultam os nossos ouvidos para a mais intensa discussão entre os instrumentos de sopro. Quando, finalmente, o tema regressa, no meio do turbilhão, sabemos que é aí que voltamos ao início, mas a um início redescoberto pela acumulação e transformação do passado.

Isotope (composição original de Joe Henderson) coloca Mine e Imai em uníssono numa faixa que começa bastante mais moderada e cheerful. Imai descola-se do alto de Mine e sola. Confiante, com a bateria a segurá-lo e o piano a dialogar directamente com ele. Mas, quando já embalados pela ausência de Mine, eis que o maroto intérprete vai buscar o seu soprano pela primeira vez e inicia, sem pudor, uma cascata de notas mais esguias que, a despeito da sofisticação, não conseguem dissimular o swing infectante. É praticamente impossível não estalar os dedos, ouvindo este regresso vindo não se sabe bem de onde apenas para nos importunar (e importune-nos mais vezes, por favor, Sr. Mine). Talvez por não querer ficar atrás, Ichikawa principia, logo a seguir, um solo tão ou mais admirável, conversando com o contrabaixo incrível de Takashi Mizuhashi, finalmente audível no meio dos seus comparsas agora sedentos por oxigénio.

E, depois, vem a introspecção de Dream Eyes. Ouve-se o Fender meloso, confortavelmente dormente enquanto a bateria vai marcando um ritmo de doce inquietação. Depois do aquecimento mais frenético das duas faixas anteriores, estamos agora preparados para admirar os sons de silêncio do quinteto. Mine, respondendo ao meu pedido anterior, não tarda a perturbar a tranquilidade atmosférica dos seus colegas, ma non troppo. O som do seu soprano equivale a atirar pequenos seixos para dentro das águas brilhantes de um jardim japonês. Os arcos podem parecer excessivos no quebrado espelho liquido, mas há quem admire a harmonia do pequeno distúrbio, o brouha dos pássaros migrantes raspando no topo dos pinheiros. Dream Eyes é para esses intrépidos ouvintes que intuem paz no rebentar de uma onda. Ah, mas esquecia-me do trombone de Imai que também o acompanha no tema. Há qualquer coisa de hino nos sopros destes músicos. Ou talvez seja um lamento? Nos solos do piano e do saxofone (um a seguir ao outro), certamente. Um hino lamentoso, como uma lua melancólica numa noite chuvosa de Inverno. A sobrecarga de metáforas relacionadas com a Natureza atesta a beleza mística desta composição que é o ponto culminante de todo o álbum.

Como que levando uma chapada numa cara distraída, em Work I começamos lá em cima, rasgando um solo. Não é preciso tema aqui nem introduções para uma qualquer ponte de improvisação. Já lá estamos, em queda livre, fervendo as melodias do nunca ofegante saxofonista. Toda a banda trabalha para o alto (regressado) de Mine, pelo menos na primeira metade. Foi-se o aluado mistério do tema anterior e, no entanto, ambas as faixas parecem estar, de alguma forma, ligadas. Talvez porque Work I começa in media res, na contra-mão total do que lhe precedia. Mas, é precisamente esse contraste que unifica as pontas. Por falar em intensidade, Murakami tem ainda espaço para brincar com a sua bateria enquanto toda a banda pára para escutar. É um belo solo que só poderia ser fechado pelo retorno de Mine à sala de comandos, com notas mais velozes do que anteriormente. Custa a crer que o estúdio não tenha ido abaixo com tamanha perícia e inspiração. Mais três álbuns seriam lançados em 1970. Mas isso ficará para a próxima.


Classificação: ****
Melhor Solista: Kosuke Mine
Melhor Faixa do Álbum: Dream Eyes

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